terça-feira, 4 de agosto de 2009

VIAGEM À LUZ DE VELAS

Olhando pra fumaça desvairada que sai do meu cigarro, pensando em ti.
Imaginando se estás com a outra ou se comigo no pensamento.
Sozinha no meu quarto escuro a vela trepida e dança na parede quase branca. E o vento frio que entra da janela corta um suspiro que de saudade me inspira. Fica mais silêncio ainda sem luz. A escuridão do pátio me assusta e a lua crescente me fascina e alivia. Sinto um medo quase nostálgico de estar aqui sozinha. Acendo outro cigarro que me faz companhia.
Agora ouço vozes no pátio do vizinho, surpreendido pela escuridão. Eu não.
Uso a lanterna que ilumina as letras que aqui escorrem e aguardo. Talvez com ela estivesse na TV, sem enxergar a fumaça do cigarro, sem escrever. Que bom que não tem luz. O fogo do isqueiro quase queimou meu cabelo, sem noção de distância entre a boca e o cigarro.
Olha! Os vizinhos saíram pra rua como se vissem agora. Também não entendem a escuridão. Eu prefiro esboçar aqui com meus rabiscos a trajetória da fumaça. Uma graça. Quase faltando pilha na lanterna, tento imaginar se consigo escrever com a luz da vela. Trépida.
E acho a boca com o cigarro. Baforadas de silêncio. Escuto a falta de luz pensando em mim, em ti. Pena não estar aqui.
É diferente quando a luz se apaga sem pedir licença. Assusta, surpreende os sentidos. Amedronta a razão. Fica sem chão, quase cega. Por um momento pensei: é rapidamente elétrico o que acontece. A falta da luz.
Continuo olhando a TV sem movimento ou trançando os polegares pra ver se o tempo passa, ele passa. Agora dá vontade de continuar lendo meu livro de novo. A vela tá quase acabando, tenho que achar outra.
É silencioso demais ficar sem luz. Nem a da lua tem, só da vela acabando e a do cigarro. Ah, esta lanterninha tá me guiando.
A da vela faz contornos diferentes nas paredes. Contornos que nunca observo no meu quarto. Pensamentos que não me permito invadem esta penumbra. É outro ângulo de luz.
E as sombras dos móveis escorrem parede acima enquanto a vela diminui. Vultos imóveis que crescem. Fui permitindo que a vela se acabasse pra conhecer um pouco mais as sombras deste quarto. O silêncio estava insuportável e a escuridão abominável.
A vela era quase uma chama extinta, fui deixando. Queria ver até onde iria o silêncio do medo do meu quarto. Até onde as sombras me engoliam e se confundiam com a minha.
Outro cigarro, fumo mais no escuro. Seja por mais um ponto de luz. Seja a companhia, idiota. Seja a aflição de fazer qualquer coisa além de escrever enquanto não volta a luz.
Já nem é mais vela, é cotoco. Tá quase iluminando menos que o cigarro. Continuo deixando. Talvez supere o medo do escuro, do sozinho.
Eba!! Voltou a luz. Vou deixar a vela acesa mesmo assim.
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