domingo, 14 de março de 2010

TÃO PISCIANA

Sim, pisciana com ascendente em gêmeos, total dualidade. Um pra cada lado, desencontro. Tô pertinho do meu aniversário (terça, 16), notoriamente meu inferno astral. É sempre assim, ano após ano fico desorientada, desconsertada, desconectada e uma verdadeira avestruz.
Enfio a cara no buraco pra me esconder da realidade.
Parece que tô em trabalho de parto, mas ao inverso.
Odeio cigarras, mas fumo demais. Elas prenunciam um calor insuportável, daí elas gritam como loucas na minha rua parada e me vejo no asfalto de cara atolada e de bunda pra cima.
Meus olhos são lindos quando choram, ficam verdes molhados. Tão anarquista, olho as gavetas entupidas de passado e não faço nada pra jogá-lo fora. Fico parada como a minha rua, deserta no calor prenunciado pelo canto da cigarra. Aí, que tédio!
Sou turbilhão travestida de adulta, me perdoem. Não sei se não cresci ou cresci demais.

Sou mais louca que pareço e mais certa que mereço.
Cai nas gavetas e me perdi na bagunça, nadando entre roupas velhas e bijuterias fora de moda, calcinhas amassadas e sutiens apertados. Esbarrei em fotos amareladas de entes que já se foram. Aquilo tudo em cima de mim como um passado escondido e empoeirado. Encontrei documentos com fotos 3X4 que já nem quem sei quem sou.
Dali, escorreguei para o guarda-roupas que nem serve mais de tanto cupim. Aqueles vestidos juram que eram meus, as blusinhas decotadas continuam se insinuando para os meus seios e o taier ensaia uma pose de executiva bem sucedida. Encontrei, também, uma calça jeans desbotada que uma traça usou numa rave. E entre uma troca de chuva e sol aqui na rua, fui relembrando minhas gavetas entupidas de passado que terei que enfrentar para que eu não tente nascer pra dentro.
Preciso respirar o novo sem o pó que me asfixia a garganta e pra isso vou comer pétalas de rosas vermelhas.

Dei nós que nem eu mesma sei por onde.
Misturei lembranças boas com as ruins, sem possibilidade de separação. Guardei um pôr do sol dentro do guarda-chuva e fotografei minha alma.
Achei um dragão dentro do criado-mudo fazendo xixi e no quarto canto do meu quarto encontrei uma estrela cadente que chorava por ter perdido o rumo e cheirava como as rosas vermelhas que eu comia.
Pra festejar, mandei fazer um bolo de chocolate cremoso crivado de cerejas encantadas pra aliviar minha depressão pós-parto. Levei um tapa na bunda e ali onde eu chorei qualquer um chorava, pena de mim não precisava.. dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem dava.
Em sendo assim, levantei e sacudi a poeira das gavetas e agora minha nêga... vamu dá a volta por cima que atrás vem gente.

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